terça-feira, 24 de janeiro de 2017

As Minhas Fitas #1


Meus geeks, vou estrear aqui esta rúbrica, onde irei falar de alguns filmes que vi, quer há mais tempo quer recentemente.

Vou abrir com o meu favorito de todos os tempos: E Tudo o Vento Levou.

Produzido em 1939, com um orçamento milionário e vencedor de 10 Óscares da Academia, relata a história de Scarlett O´Hara, herdeira de Tara, uma grande plantação de algodão nos estados do Sul.
O filme começa com uma festa em Twelve Oaks, a propriedade vizinha, onde se encontra o amor de sempre de Scarlett, Ashley Wilkes. Mas Scarlett tem uma verdadeira de corte de pretendentes, todos candidatos a um sorriso e uma coqueteria da parte dela. Ela é uma southern belle de pleno direito!


Para essa festa, é convidado um ianque de reputação duvidosa chamado Rhett Butler, que logo fica com Scarlett debaixo de olho e que a vê como ela é: manipuladora, egoísta, egocêntrica.

Entretanto e durante essa festa, anuncia-se a guerra civil: Norte contra Sul. Todos os mancebos em idade de lutar estão entusiasmados e doidos para mostrarem o seu valor em batalha. Como sabemos, a Confederação perdeu, e com isso imensas vidas também perdidas, que estes jovens representam.
A partir daqui, o filme desenrola-se entre a ida de Scarlett para Atlanta, onde fica cercada entre os 2 exércitos, na famosa batalha de Gettysburg, depois a volta a Tara, que se encontra completamente destruída, com a mãe morta e o pai severamente desequilibrado mentalmente até ao desfecho final em que Rhett desaparece no nevoeiro.


É um filme longo - mais de 3 horas - mas que vale todos os minutos passados a vê-lo. Tem interpretações excelentes e uma história arrebatadora, onde se mistura a vontade de vencer todos os obstáculos - pobreza, guerra, amor não correspondido - e uma certa tomada de consciência que nem sempre podemos vencer, ou como dizem os Rolling Stones "you can´t always get what you want". Scarlet é uma força da natureza, levando á frente tudo e todos, para atingir os seus objetivos, sejam eles quais  forem. Esta famosa cena em que ela aparece vestida com os reposteiros de casa, porque não tinha dinheiro para comprar tecido, para fazer um vestido novo e não queria parecer pobre para que Rhett lhe emprestasse dinheiro, é bem digna dessa noção.


Quer nos afetos, quer no dinheiro, que ela jurou nunca mais passar necessidades, está sempre em cima do assunto e nunca dá o flanco. Tenta sempre dar a volta por cima.
Outra grande personagem será Melanie Hamilton, a esposa de Ashley. Ela sabe perfeitamente os sentimentos que Scarlett tem por ele, mas mesmo assim confia no coração doce que Scarlett esconde, por debaixo de toda aquela empáfia e arrogância. É Scarlett quem a ajuda no parto do filho dela, é Scarlett que tudo faz para os proteger, na viagem de Atlanta para Tara, no meio do fogo cruzado entre os 2 exércitos rivais.


Rhett é o proverbial fura-vidas ianque, que está sempre a virar a casaca para o lado onde obter mais vantagens - leia-se dinheiro. Ele tem razão quando diz a Scarlett que eles são parecidos. Eles são capazes de atropelar seja quem for para que os seus intentos vão avante ajudados pela sua mente fria e calculista.


Ahsley é o cavalheiro sulista muito reto e muito correto com a sua esposa, mas que não sabe lidar com as atenções indesejadas de Scarlett. E ela toma isso como um incentivo, para se atrever mais e mais até que percebe que nada disso vai mudar a situação em que se encontram. E que Ashley ama a esposa de verdade, pelo que ela nunca teve hipóteses com ele.


A "voz da consciência" de Scarlett é a Mammy, a sua ama negra, cuja atriz ganhou um Óscar por esta interpretação, quando muito poucos atores afro-americanos desta época conseguiram fazer esta proeza.


Escusado será dizer que este é o meu filme preferido de sempre, que já o vi para mais de 5 vezes e que, de cada vez que o vejo, encontro sempre aspetos novos, não vistos anteriormente.


Se dispuserem de 3 horas da vossa vida para ver este belíssimo filme, não se arrependem. Além do enredo fantástico e  muito  bem conseguido, quer a nível de guião quer a nível de interpretações, temos toda a parte histórica da Guerra Civil Americana e as suas consequências devastadoras.



Kisses da vossa Geek


domingo, 22 de janeiro de 2017

Opinião

Um Homem Chamado Öve


Öve é um velhote resmungão que não entende o mundo. Öve não quer saber do mundo. Öve quer deixar o mundo.
É mesmo isso: o livro começa no dia em que Öve decide cometer suicídio. A sua única amarra a este mundo, a sua mulher Sonja, morreu há 6 meses. O sol da sua vida morreu devido a um cancro e levou toda a paciência e compreensão com ela. Mas, e como tem que haver um "mas", a chegada de novos vizinhos vai revolucionar a vida de Öve.

Este é o ponto de partida de um livro ternurento e divertido ao mesmo tempo, com os desmandos e o TOC pronunciado de Öve. É uma critica á sociedade muito interessante e original. São abordados temas como a velhice, solidão, homossexualidade, racismo, homofobia, o poder das instituições, a burocracia e  principalmente as relações humanas, porque é isso essencialmente que este livro aborda de uma maneira inteligente, divertida e ao mesmo tempo tocante.
Temos vontade de, ás vezes, abanar Öve pela sua intolerância e inflexibilidade, noutras rimos com as atitudes dele e noutras aprovamos as loucuras que ele faz em nome do bom viver na vizinhança.
Tudo isto é relatado através dos olhos críticos e resmungões no nosso protagonista que me fez lembrar o protagonista do filme de animação Up - sempre a resmungar, a parecer de mal com o mundo, mas no fundo no fundo, um coração de manteiga que apenas quer ser útil e não um estorvo.

A narrativa faz-se entre o momento presente e alguns saltos ao passado, para percebermos como é era a vida dele, a infância, como conheceu a mulher,  e no fundo o porquê de ele querer tirar a própria vida. Nessas analepses e prolepses estão todas as respostas que precisamos para compreendê-lo.
Quantos mal-entendidos haverão por esse mundo fora, com pessoas aparentemente intratáveis, porque não há tempo nem curiosidade para perceber o que é que essas pessoas carregam consigo? Essa foi a maior mensagem que retirei deste livro. Também que a partir de determinada idade, toda a gente pensa que sabe o que é melhor para nós e ás vezes estão redondamente enganados!
A escrita é fluída e simples e passa todas as mensagens e emoções com clareza.

Este foi o meu primeiro audiobook e aconselho vivamente. Ouvi em inglês e o narrador foi excelente ao fazer sons de enfado, exclamações de meninas de 3 anos - muito bem narrado, nada parado nem confuso. Penso até que tornou a experiência de leitura mais completa. Irei certamente estar atenta a outros audiobooks desta qualidade.

Kisses da vossa Geek