quarta-feira, 22 de março de 2017

Opinião

A Linguagem Secreta das Flores

Advertência:
Se pensam que este é um livro light e fofinho tal como o título e capa sugerem - desenganem-se. Este é um livro de emoções fortes e de sentimentos profundos.

Victoria Jones teve uma infância que ninguém deseja - penso até que seja o terror de qualquer pessoa: ela foi abandonada em bebé e levou toda a sua vida, até aos 18 anos de idade, a ser colocada em casas de acolhimento e em possíveis pais adoptivos, que nunca se traduziram em alguém que lhe quisesse mesmo dar um lar e uma família.
Com 18 anos, o estado americano declina mais responsabilidades. É altura de as crianças ditas "no sistema" se fazerem à vida e tentarem sobreviver, com o pouco que lhes foi incutido nestes anos todos de rejeição, em famílias absolutamente desestruturadas. 
Victoria é uma dessas adolescentes que, não tendo praticamente nenhum ensino formal, quanto mais uma profissão, são postas em halfway-houses até que consigam se sustentar por si próprias. Ela adora flores, sempre foram a sua paixão, mas ela aprendeu mais a sério o significado escondido de cada flor com a sua mãe de acolhimento mais significativa, Elizabeth, a que esteve quase a adoptá-la.
Victoria não gosta de comunicar com palavras, por isso aprender a linguagem secreta das flores, uma arte da época vitoriana, foi o modo de se começar a relacionar com o mundo exterior e de passar mensagens ás outras pessoas, sem efectivamente dizer nada. Pois ela não tem vontade de ter qualquer contacto, intimo ou de amizade, com quem quer que seja.

Renata é a dona de uma florista que decide contratar Victoria pela extrema habilidade que ela denota com as flores e com a sensibilidade que ela mostra, ao conseguir "emparelhar" clientes e arranjos florais. Ela passa a ter clientes só mesmo dela, que a procuram para que possa traduzir num ramo de flores, as mensagens ou os anseios que não conseguem expressar. Ela tem sucesso e gosta do que faz, pois parece mesmo talhado para ela. Mas uma série de coincidências e de encontros inesperados vão dar uma reviravolta completa na sua vida e ela vai, mais do que nunca, necessitar da calma que encontra nas suas adoradas flores, que nunca lhe mentiram nem nunca lhe exigiram mais do que ela estaria disposta a dar.

Este será o ponto de partida para uma história que tem tanto de inocente como de profundamente emocional. Eu, que não sou de chorar com livros, chorei abertamente com este, pois sem ser lamechas - que não é - conta a história de alguém tão traumatizado com a solidão e rejeição, que pensa que ela própria é indigna de amor e de proximidade, que irá sempre fazer toda a gente infeliz. Também emocionei-me pelo facto de ela apenas se conseguir relacionar com os outros a coberto das flores, e não por ela própria - não imagino como será estar fechada em si mesma de tal modo que só encontra esta maneira de se expressar.

Confesso que peguei neste livro com receios de ser demasiado "romance de cordel", mas fiquei extasiada com a qualidade da escrita e do enredo, que se passa em duas épocas distintas, mas bem demarcadas, com capítulos separados e curtos.

E vocês, já leram? Têm curiosidade? Contem-me tudo.

Kisses da vossa Geek

domingo, 19 de março de 2017

Vamos falar de ....

Audiobooks

Recentemente comecei a ouvir audiobooks.

Um deles já aqui tem opinião - Um Homem Chamado Öve - mas quero deixar aqui a opinião dos 2 mais recentes - na verdade acabei-os esta semana. Um deles ainda não foi traduzido e o outro foi, mas com sucesso bastante modesto.

Behind Closed Doors

Um thriller psicológico muito bem contruído, em redor da noção bem portuguesa de "entre marido e mulher, ninguém mete a colher". Grace tem um casamento feliz, uma casa fantástica e um marido perfeito. Mas será tanto assim? O que se passa entre 4 paredes?
O bom deste livro é ir sem saber grande coisa, pois o enredo está escrito de tal modo que vão-nos sendo deixadas pistas, mas enquanto não se tiver uma visão mais geral de toda a situação, não nos apercebemos que elas lá estão.
A tensão, o medo e a estupefação fizeram com que eu progredisse no livro, sempre em busca de explicações. Porque há situações que nunca pensamos que podem acontecer, mas elas foram descritas neste livro de modo verosímil,  e, o que é mais assustador - podem bem ser reais.
A narradora faz todas as vozes e tem uma entoação perfeitamente british, mas com ritmo, cadência e sentimento - fez-me sentir tudo o que se passava com a Grace.
O final, embora previsível, teve um desfecho inesperado, e, por isso congratulo a autora e lanço um apelo ás editoras portuguesas: o que é que estão á espera de editarem cá esta autora, que tem pelo menos mais um livro escrito?


Indecoroso (Unmentionable)

O subtítulo deste livro diz tudo: o guia para a dama vitoriana sobre sexo, casamento e conduta.
Este é um livro de não-ficção, sobre todos os aspetos que envolvem uma dama vitoriana, desde a sua roupa interior sem entrepernas - é o começo do livro - até à histeria, doença muito em voga entre as damas vitorianas de riqueza.
Este é o tipo de não-ficção que gosto - á parte de biografias - em que são focados aspetos específicos ao estilo "época vitoriana para totós".
O livro está estruturado como uma viagem no tempo. A autora começa por dizer que nós (leitoras) romantizamos demasiado a época, muito por culpa de filmes e livros, que não nos mostram toda a horrível verdade - que, quando vemos Orgulho e Preconceito, não vemos as ruas de Meryton como elas deveriam ser na altura: com excrementos de cavalo até aos tornozelos de quem se aventurasse a andar por ali.
Portanto, ela propõe uma viagem no tempo, e, em tom professoral e meio sarcástico, vai-nos guiando pelos diversos aspetos que compunham o dia-a-dia de uma mulher, em qualquer estrato social, na época vitoriana. Ela vai-nos dar conta de pormenores que nem aparecem em correspondência da época, por serem tão intrínsecos e normais, tal como nós hoje não nos referimos ao facto de tomarmos banho todos os dias, porque isso será um dado adquirido.
A narradora pôs-me a rir em voz alta por diversas vezes, tal o seu tom entre o jocoso e o condoído, pela nossa ineptitão ao navegar no século XIX.

E vocês - já leram? Têm curiosidade?

Kisses da vossa Geek