quarta-feira, 29 de março de 2017

Dois por Um

Gabrielle Chanel

Livro Mademoiselle Chanel de C. W. Gortner

e

Filme "Coco Avant Chanel"

Decidi juntar estas duas vertentes da vida de Gabrielle Chanel, não porque o filme tenha sido feito a partir do livro ou vice-versa; apenas que o filme, que vi há anos atrás, e com certeza alguns anos antes de o livro ser escrito, retrata fielmente a vida e obra de uma das mulheres mais influentes do século XX.

Para quem desconhece por completo as origens desta grande mulher, pode-se dizer que ele teve uma infância conturbada, onde a sua mãe, solteira e com 5 filhos para criar, era deixada sozinha pelo pai por longos períodos de tempo, pois o ele era vendedor e andava de cidade em cidade.
A mãe morreu quando Gabrielle tinha 12 anos e o pai não se quis ocupar de nenhum dos filhos: as meninas foram para o convento de Aubazine, enquanto que os rapazes ficaram a trabalhar numa quinta.
Possivelmente, esta sensação de abandono e pobreza extrema fizeram com que Gabrielle inventasse uma vida para ela, em que não estaria patente o desprezo a que ela e a sua irmã Júlia, ambas internadas nas freiras, foram votadas.

"A minha vida não me agradava, por isso resolvi criá-la"

Esta é a frase de abertura de um livro extraordinário sobre esta mulher avant gard, esta mulher que nasceu antes do tempo em que poderiam entender a sua mente e as suas atitudes.
Em seguida a sair de Aubazine, Gabrielle e a sua irmã ainda ficam mais 2 anos em regime de pensionistas, num outro mosteiro para meninas, em Moulins, perto de alguns familiares da parte do seu pai. Após esses 2 anos, e já uma reputada costureira e bordadeira, ela e a sua tia mais nova Adrienne vão trabalhar para uma maison, especializada em enxovais de noivas. Mas o pagamento é tão pouco que Gabrielle começa a cantar no café La Rotonde, e a canção que mais a celebrizou foi a que lhe deu o seu diminutivo  - Coco - por causa da canção "Qui qu´a vu Coco dans l´Trocadéro". O café  e as suas aparições foram onde ela conseguiu seduzir um jovem socialite chamado Étienne Balsan, que regressava da guerra para o château da família, em Compiégne.
Ela tornou-se sua amante e ele deu-lhe acesso á alta roda francesa e deu-lhe ainda a conhecer o grande amor da sua vida: Arthur Capel ou Boy para os amigos, um milionário inglês que foi o primeiro a apostar no seu primeiro negócio - uma loja de chapéus.
Gabrielle amava perdidamente este homem e, apesar da grande mágoa de ele se casar com uma daquelas senhoras "com 3 nomes" (designando as senhoras da aristocracia), eles mantiveram uma relação intermitente, que durou até à morte dele, num acidente de carro.
Por esta altura, Coco já era bastante conhecida em Paris e das mais famosas revistas de moda francesas, portanto ela decidiu expandir o seu negócio para a roupa, primeiro desportiva e de praia.
A nível pessoal, nunca foi casada nem nunca tal entrou nos seus planos, mais uma vez, pelo trauma de não conseguir confiar em ninguém a 100%, sem ser nela própria.
Como última curiosidade, ela foi a única estilista francesa que fechou   o seu atelier, ou seja não produzia coleções, durante a ocupação alemã de França, o que lhe valeu algumas suspeitas por parte dos alemães do Reich.

A nível do livro em si, já não é a primeira experiência com este autor e considero-o mesmo um dos melhores em romance histórico, atualmente. A escrita, o estilo de narrativa em primeira pessoa e o ritmo que ele imprimiu, contribuíram para uma leitura viciante e frenética, pois há muitos aspetos da vida desta grande senhora que me eram completamente desconhecidos e que, aqui, ganharam vida e sentimento.
Tem descrições lindas de Paris e das suas festas nos loucos anos 20, da cena intelectual e artística - ela era amiga de Picasso, Sergei Diaghilev, Jean Cocteau, entre outros. Fala também da sua incursão nas drogas, sempre bastante controlada e dos seus amantes - alguns.
O tom da vida desta mulher, se quisesse ser descrito em uma única palavra será moderação. Menos no trabalho, que era o seu centro de tudo. Mas, em tudo o resto, ela sabia ser moderada e ponderada, fria e calculista. Nunca deu um passo maior que a perna e isso fez com que contruísse um império, ainda hoje reconhecível.

O filme retrata exatamente o que li. Foram muitas as vezes que li o livro e revia na minha mente cenas especificas do filme. A fotografia está linda, a atuação da Audrey Tautou está no ponto e dá vontade de voltar àqueles anos loucos e viver um pouco aquilo que ela viveu, para perceber em que matéria ela foi moldada.
Em termos de biopic, é um dos melhores que já vi. Não sai do tom, não glorifica, mas também não arrasa com o seu sujeito principal, portanto recomendo vivamente para quem queira ir a Paris, ir ao centro de um turbilhão de criatividade e perceber como funciona (ainda) o mundo da moda. Porque, aí, nada mudou desde essa altura...

Kisses da vossa Geek

domingo, 26 de março de 2017

Projeto Historiquices - Abril

Lucrécia Bórgia

Este mês pegamos numa figura que tem tanto de emblemática, como de sinónimo de perfídia feminina.

Lucrécia nasceu da relação ilícita de seu pai, na altura cardeal, Rodrigo Bórgia, e da sua amante de longa data Vanozza Catanei, embora tivesse várias em simultâneo.
Rodrigo Bórgia tornou-se Papa, adotando o nome de Alexandre VI e, desde aí, procurou para sua filha - e, consequentemente, para si - um casamento e uma aliança frutíferas. Ela foi casada aos 13 anos de idade com Giovanni Sforza, uma das grandes famílias de Itália, mas devido á sua tenra idade, o casamento não foi consumado.
Quando a aliança com os Sforza deixou de ter sentido para Alexandre VI, ele ordenou ao seu filho Cesare, que foi para o sacerdócio obrigado, pois ele era mais soldado que padre, que livrasse a sua irmã desse "inconveniente", pois ele já tinha outro marido em vista para ela.
Como Giovani Sforza e Afonso Biscegli, o segundo marido de Lucrécia tiveram umas mortes prematuras e suspeitas, toda a Roma falava de envenenamento, incesto fraterno e paterno, orgias e deboche. O nome de Lucrécia sempre ficou associado a tudo isso.

A verdade: sim, o irmão Cesare matou-os a mando de seu pai, tudo para o engrandecimento da família. Lucrécia sempre foi apenas e só, um peão - bem alimentado, vestido e calçado, mas nada mais que isso, que eles dispunham a seu belo prazer, como lhes era mais vantajoso. Não me parece que nada do que lhe era imputado de mais escandaloso fosse verdade.
Lucrécia revelou ser uma dama da Renascença de pleno direito, pois com o seu terceiro casamento, foi reconhecida como culta, educada, gentil, uma benemérita reconhecida, mãe incansável para os seus filhos e inclusivamente teve a regência do ducado de Ferrara, durante as ausências de seu marido Afonso D´Este. 
Lucrécia fez do ducado de Ferrara um sítio de congregação de escritores, pintores, poetas, um sitio onde a cultura renascentista fervilhava em todo o seu esplendor.
Morreu após dar á luz o seu oitavo filho, mas deixou para trás um legado de escândalos e maledicência que perdurou estes séculos todos.

Será esta a figura grandiosa sobre a qual nos vamos debruçar no mês de Abril, e, como é costume, segue-se um lista de sugestões para quem quiser acompanhar-me.

Livros














Filmes

Bórgia - um filme espanhol que retrata toda a família

Séries

Os Bórgias - com o Jeremy Irons

Borgia Fé e Medo - uma série de 2011, sem o aparato da anterior

Kisses da vossa Geek