domingo, 30 de abril de 2017

Opinião

O Carrinho de Linha Azul

Tal como o próprio título sugere, neste livro "desfia-se" uma história de família, com uma casa como protagonista, em que as sucessivas gerações de Whitshanks se perfilam, para contar as suas aventuras e desventuras.
O livro começa por nos apresentar Abby e Red, os patriarcas atuais da família. Eles têm 4 filhos, todos adultos, alguns netos e, o que começa por ser uma família picture perfect, com uma análise mais demorada, conseguimos ver o que na realidade são: seres humanos, com erros, glórias e derrotas, como todos temos.

São-nos apresentados os filhos, uns responsáveis, outros nem por isso; uns com mais jeito para o negócio da família, e outros não se importando com nada.
O elemento catalisador entra em ação quando um deles muda-se para a casa de Bouton Road, aquela que fica por cima de uma colina e que tem um alpendre grande a toda a volta.
Na segunda parte do livro ficamos a conhecer os pais de Red e na terceira parte, como Red e Abby se apaixonaram.

Penso que este é um daqueles livros que tem uma palavra chave: a deste será domesticidade. Porque tudo neste livro grita casa, conforto, família. E com isso as desavenças entre irmãos, as preocupações dos pais, tudo aquilo que constitui uma dinâmica familiar, acontece aqui.
Não se pode dizer que há um enredo per si mas sim, a vida é o enredo deste livro. Não tem um início específico e também não terá um fim concreto - a autora fez o que eu chamo de "fatia de narração": se a vida destas personagens fosse um bolo, ela "cortou" uma fatia dessa linha de vida e deixou o resto do bolo na travessa. Para ser consumido mais tarde. Porque escolheu focar-se apenas nos acontecimentos contidos nessa pequena porção.
A escrita prende sem ser pretensiosa. Uma narrativa simples, sem aspirações filosóficas, que se lê pausadamente, pois as dinâmicas familiares são sempre assuntos de grande complexidade, devido á sua variedade e heterogeneidade.
Esta é uma história que todos nós nos podemos relacionar pois, quem não tem histórias parecidas nas suas respetivas famílias? Aquilo que não é dito em prol de uma paz, nos poucos momentos que todos se juntam, mas que, inevitavelmente, fica preso na garganta, para sair no momento mais oportuno (ou não)?

"Lá estava mais uma das excentricidades deles: tinham imenso jeito para fingir que tudo estava bem."

Kisses da vossa Geek