terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Feminismo - ainda uma palavra feia?

Ontem, e a propósito de uma série, em que se investigava o assassínio de uma sufragista, uma das personagens no presente, diz isto:


Se as mulheres de agora soubessem o que estas mulheres sofreram, nunca dariam o seu direito ao voto por garantido.


A partir daqui, vieram-me à cabeça ideias em tropel.


Sim: nós, hoje em dia, damos por dado adquirido uma série de coisas como liberdade de expressão, direito a - em caso de divórcio - ficar com os filhos, emprego, independência de todas e quaisquer pessoas. Podemos viajar para onde queremos, sem que o homem da família - pai, marido ou irmão - tenha que assinar um consentimento, temos direitos a cuidados de saúde diferenciados, etc, ad infinitum. Temos direito a ter os nossos hobbies e os nossos sonhos, sem que para isso sejam considerados "frivolidades" e "coisas de mulher".
Muitas vezes penso que todas as conquistas foram desperdiçadas nestas últimas gerações, pois parece que não se faz caso dos deveres, apenas se clama por direitos. E uma sociedade e bons cidadãos, pauta-se pelo equilíbrio entre os direitos e os deveres. Um não existe sem o outro, pelo menos em sociedade democrática, que é pelo que posso falar. Não vamos falar de sociedades arcaicas, onde a mulher pouco mais vale que uma vaca ou uma cabra - é apenas um objecto, a ser disposto por quem dele se acha "dono".




Mas o que me fez pensar foi: será que foi para a carga enorme, que as mulheres têm actualmente, que estas sufragistas tanto lutaram?
Porque podemos ter empregos remunerados, mas ganhamos menos em relação aos homens e a desempenhar as mesmas funções (frequentemente, na mesma empresa). Temos filhos, que deixamos todo o santo dia em instituições,  amas, avós ou tias (quem tenha essa sorte), para podermos ir trabalhar, para ganhar dinheiro para...pagar a essas pessoas todas, que tomam conta dos nossos filhos. Temos casas nossas, com todos os encargos daí provenientes. Temos, além da nossa ocupação remunerada, a ocupação de casa, pois, pelo que me é dado a perceber nos exemplos que conheço, os homens já começam a partilhar as tarefas domésticas, mas é quase por graça. E têm que ser muito incentivados e muito aplaudidos quando o fazem. Como se fosse algo de especial dividirem tarefas com a companheira, que já teve uma jornada de trabalho, em princípio, igual à dele. Já para não falar que, quando há um elemento da família próxima ou distante, doente - tia, prima, sogros, pais - a tarefa é "empurrada" para a mulher, porque, enfim "tu és mulher, sabes melhor". E lá vai a mulher, encaixar mais uma coisa na sua rotina de dia a dia, já de si muito sobrecarregada. Se os dias esticassem, haveria mulheres com dias de 48 horas, pois só assim, teriam tempo para fazer tudo o que lhes impõem e ainda ter um pouquinho de tempo só para si. Porque isso também é importante, e parece que ninguém quer saber. 
Cria-se o mito da super-mulher, que faz tudo e aguenta tudo e depois espantam-se que haja tanta gente a antidepressivos, com esgotamentos, etc.


Mais uma vez: foi para isto que evoluímos? Foi para isto que tanta mulher morreu?

A palavra-chave aqui é igualdade de géneros. Nem mais para um lado nem mais para outro. Sem desculpas e sem retrocessos. Não se trata de queimar soutiens! Acho que isso é a parte "má", que dá uma reputação duvidosa ao feminismo. Mas será que estamos a educar as novas gerações com isto em mente? Meninos e meninas cientes de que devem ser vistos por igual, com iguais direitos e deveres? Essa é a pergunta que vale milhões!

Kisses da vossa Geek